Avaliação e tratamento da dor crônica

A avaliação e tratamento da dor crônica constituem um desafio complexo na área da saúde, exigindo uma abordagem holística e multidisciplinar. A dor crônica, que persiste além do período normal de cicatrização (geralmente mais de três a seis meses), não é apenas um sintoma, mas uma doença em si mesma, com impactos físicos, psicológicos e sociais significativos na vida do paciente.

Avaliação Abrangente da Dor Crônica

A avaliação eficaz da dor crônica vai além da simples localização e intensidade. Envolve um entendimento profundo da experiência do paciente:

1. História Detalhada: Coleta de informações sobre o início da dor, duração, localização, qualidade (ex: queimação, pontada, peso), fatores de melhora ou piora e tratamentos prévios.
2. Intensidade e Impacto: Utilização de escalas validadas (como a Escala Visual Analógica – EVA, de 0 a 10) para medir a intensidade. Mais importante, deve-se avaliar o impacto da dor nas atividades diárias, sono, humor e qualidade de vida.
3. Mecanismos da Dor: Identificação do tipo de dor (nociceptiva, neuropática ou mista) é fundamental para direcionar o tratamento correto. A dor neuropática, por exemplo, responde melhor a classes de medicamentos específicas (como antidepressivos ou anticonvulsivantes) do que a analgésicos tradicionais.
4. Avaliação Psicossocial: Rastreamento de comorbidades como depressão, ansiedade e catastrofização, que frequentemente acompanham a dor crônica e podem exacerbar a percepção da dor.

Tratamento Multimodal da Dor Crônica

O tratamento da dor crônica raramente se baseia em uma única intervenção. Uma abordagem multimodal, combinando diferentes estratégias, é o padrão-ouro:

1. Farmacoterapia: Utilização de medicamentos em diferentes classes, seguindo princípios como a escala analgésica da OMS (para dores nociceptivas) e a introdução de adjuvantes (como gabapentina, pregabalina, duloxetina) para dor neuropática. O objetivo é otimizar o alívio minimizando os efeitos colaterais.
2. Terapias Não Farmacológicas:
   • Fisioterapia e Exercício: Essenciais para melhorar a função, força e mobilidade, além de reduzir a rigidez.
   • Terapias Cognitivo-Comportamentais (TCC): Ajudam os pacientes a mudar a forma como pensam e sentem sobre sua dor, desenvolvendo habilidades de enfrentamento e melhorando o humor.
   • Terapias Complementares: Acupuntura, mindfulness, yoga e outras práticas podem oferecer alívio adicional.
3. Procedimentos Intervencionistas: Em casos selecionados, injeções locais, bloqueios nervosos, neuroestimulação ou bombas de infusão podem ser indicados por um especialista em dor.

A gestão bem-sucedida da dor crônica requer uma parceria contínua entre o paciente e uma equipe de saúde dedicada (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos). O foco deve ser na melhoria da função e da qualidade de vida, e não apenas na eliminação completa da dor.